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Andragogia como ferramenta para ensino do adulto

por Carmem Sant Anna


Desde 1926,  ideias  sobre as  diferenças  de aprendizagem  entre crianças  e adultos começaram a ser sistematizadas a partir dos estudos de Lindeman (1926), que identificou particularidades sobre como o adulto aprende. No século XXI surge o pensamento de Knowles (2009, p. 66, 67): “Os adultos, em sua maioria, têm sido ensinados como se fossem crianças”; Palavras que combinam com o pensamento  de  Paulo  Freire  quando  ele  se  referia  à  educação  de  jovens  e  adultos,  que acontecia “como pura reposição dos conteúdos transmitidos às crianças e jovens”. Os estudos de Lindeman, Knowles e Paulo Freire revelaram que havia necessidade de rever a forma de enxergar o aluno adulto. Trabalhar com adultos no papel de facilitador de aprendizagem exige uma pessoa sensível a essa diferença.

Segundo Knowles  (2009,  p.  121-122),  “o  modelo  andragógicos  é  um  modelo processual, em oposição aos modelos baseados em conteúdo.  [...] O professor andragógicos (facilitador, consultor, agente de mudança) prepara antecipadamente um conjunto de procedimentos”. Para isso o autor lista oito elementos do processo da Andragogia que o facilitador pode combinar para organizar as suas ações educativas. São eles:

1) preparar o aprendiz;2) estabelecer um clima que leva à aprendizagem;3) criar um mecanismo para o planejamento mútuo;4) diagnosticar as necessidades para a aprendizagem;5) formular os objetivos do programa (o conteúdo) que irão atender a essas necessidades;6) desenhar um padrão para as experiências de aprendizagem;7) conduzir essas experiências de aprendizagem com técnicas e materiais adequados; e8) avaliar os resultados da aprendizagem e fazer um novo diagnóstico das necessidades de aprendizagem (KNOWLES, 2009, p. 121-122).

Trata-se de um modelo de processo no sentido de que “o modelo de conteúdo se ocupa de transmitir informações e habilidades enquanto o modelo de processo se ocupa da provisão de procedimentos e recursos para ajudar os aprendizes a adquirir informações e habilidade” (KNOWLES, 2009, p. 122. Os procedimentos acima descritos fazem da Andragogia um processo de ensino- aprendizagem sustentada em concepções de comunicação clara e efetiva, através de um alto nível de consciência e compromisso compartilhado entre professor e aluno.

O indivíduo é incentivado a aprimorar a capacidade de pensar e fazer conexões com o que sabe ao que aprende no decorrer da vida. Vale considerar o pensamento de Rogers, explicando sua visão referente ao “ensino” e ao contexto sócio histórico: “O ensino e a partilha de conhecimento fazem sentido em um ambiente que não se altera. Mas, se é que existe uma verdade sobre o homem moderno, é que ele vive em um ambiente que está continuamente se alterando” (ROGERS, 1985, p. 126). Rogers define o papel do professor como o de alguém que facilita a aprendizagem ligada ao contexto para um aprendiz real em tempo real em um mundo real. Que inspire o aprendiz, como diz o autor, para ser “o tipo de indivíduo que pode viver num equilíbrio delicado, mas sempre mutável, entre o que é atualmente conhecido e os fluentes, móveis e cambiantes problemas e fatos do futuro”. E afirma:

O único homem instruído é aquele que aprendeu como aprender, o que aprendeu a adaptar-se e a mudar, o que se deu conta de que nenhum conhecimento é garantido, mas que apenas o processo de procurar o conhecimento fornece base para segurança. A qualidade de ser mutável, um suporte no processo, mais do que no conhecimento  estático,  constitui  a  única  coisa  que  faz  qualquer  sentido  como objetivo para a educação no mundo moderno (ROGERS, 1985, p. 126).

O elemento crítico para desempenhar esse papel é o relacionamento pessoal entre facilitador e o aprendiz, os quais, por sua vez, dependem de o facilitador possuir qualidades atitudinais: ser real e genuíno; exibir cuidado não possessivo, estima, confiança e respeito;  ter compreensão com empatia, ser sensível e um bom ouvinte. O facilitador é aquele que faz a mediação das relações educativas e que, dessa forma, pode transformar a realidade escolar e/ou social.

Nessa perspectiva, Freire (1996, p. 25) destaca que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, e nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado e aprendido, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Surge aqui a necessidade de esclarecer o sentido etimológico da palavra Andragogia, que vem do grego andro, genitivo de aner (a pronúncia é anír). Em sua tradução literal significa homem. Aner é macho, andreia(pronuncia andría) é fêmea. Quando nos referimos à mulher que dá à luz o termo é gine, daí a palavra ginecologia” (SANT’ANNA, 2013, p. 13).

A autora observa que[...] o termo Andragogia não é a contraposição de Pedagogia; paid significa criança. A palavra grega para adulto seria enílikos. E para adolescente seria anílikos. Sendo assim, a ideia geral seria que Andragogia é o contraponto Criança versus Adulto. E, na  realidade, pela  etimologia da  palavra  não  é  isso  que  se  dá.  Então,  quando estivermos falando de Andragogia estaremos falando de um caminho educacional que busca compreender o adulto aprendente em sua inteireza e capaz de tomar decisões como um ente psicológico, biológico e social seja homem ou mulher.

A palavra Andragogia, etimologicamente, seria a junção de duas palavras gregas, andros(macho) e agogus, que significa guia, líder, condutor. Seria inimaginável pensarmos, na sociedade grega antiga, alguém “guiando” “conduzindo” um homem grego aprendente, caso esta palavra fosse utilizada na Grécia antiga. Nas palavras de Knowles (2009, p. 39):A falta de pesquisas nessa área é surpreendente, se considerarmos que todos os grandes mestres dos tempos antigos – Confúcio e Laotsé na China, os profetas hebreus e Jesus nos tempos bíblicos, Aristóteles, Sócrates e Platão na Grécia antiga e Cícero, Evelino e Quintiliano na Roma antiga – foram professores de adultos e não de crianças. As experiências desses mestres aconteceram com adultos e, portanto, eles desenvolveram um conceito muito distinto do processo de ensino/aprendizagem do que aquele que acabaria por dominar a educação formal.

Não encontrei, até o momento, registro nos escritos dos filósofos antigos indicando o uso dessa palavra. O que encontrei é que o termo andragogik foi cunhado por Alexander Kapp em 1833. Sendo assim, seja por convenção ou por costume, hoje usamos a palavra Andragogia, apesar do equívoco etimológico, para nos referir a um caminho educacional que busca compreender o adulto hoje, um ser humano amadurecido, seja ele homem ou mulher, em sua especificidade de aprendizado. E, mais um detalhe, a Andragogia não é antagônica nem se contrapõe à Pedagogia moderna. A Andragogia e a Pedagogia são duas áreas que atendem a necessidades de aprendizagem de públicos diferentes.

Faço  aqui  um  convite  para  que  seja  feito  um  exame  da  proposta  dos objetivos andragógicos, que podem contribuir para uma educação que leve à construção do homem mais integrado no momento atual e dê ao profissional de educação alternativas de recursos para ampliar e facilitar o seu fazer em sala de aula. Carmem Maria Sant Anna é instrutora no Integramente: Programa de Desenvolvimento Integrado de Consultores e Faciltadores no módulo “Aprender, Desaprender e Reaprender”.

Solicite informações: http://bit.ly/integramente_info

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